sábado, 31 de julho de 2010


Igual a sono de passarinho,
que não sabe em que galho pousar prá descansar.
Nada se encaixa e de repente saio da árvore -
e monto uma casa , de madeira , bem pequena.
Um dia viverei lá.

Terei só o indispensável: um bom fogão , cama larga ,
poltrona , uma mesa sólida com um vaso de raminhos de violetas.
A lua entrará pela janela.
Um rádio velho que transmitirá em
ondas curtas.
Basta de comunicações instantâneas.
Para que serve isso se falta alma as palavras ?
Há um valor tremendo numa alma.
Quando uma alma vinga intensa,
nascem trevos de sorte.
Nascem esquilos, passarinhos das cores mais variadas.
e um Pote da Fortuna.

Caminho na floresta sem receio, leve e solto,
Carrego folhagens secas e o cão late e fareja um bichinho na toca.
No Verão , as borboletas entraram pela minha porta -
bem coloridas e vibrantes - como numa fantasia dos livros ilustrados -
e na chegada do Outono partiram.
Não fiquei tranquilo , porque agora
terei ursos nas redondezas.
Hibernação.

Sonhei que carregava uma mulher no colo,
cruzando um riacho.
E ela sorria divertida com o meu esforço.
As borboletas voavam ao seu redor.
Sonhei com a mulher , o riacho, as borboletas.
À noite, ela dormia bonito.

Devoro livros, carrego lenha, trabalho duro
e me aflijo quando olho o céu cinza chumbo.
Outono.

*Presença *
"É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!"

*Mário Quintana*

Nenhum comentário:

Postar um comentário